PUSILÂNIME

Alexandre Schwartzman

Alexandre Schwartzman

Alexandre Schwartsman

Magu disse: O senso de humor de nosso (nosso uma ova, nós ‘’copeiamos’’ do chumbogordo descaradamente) redator é bom, como se verá ‘‘in fine’’ da matéria, o que me proporcionou um orgasmo (epa!) intelectual. Até a ilustração do Carlinhos foi um achado, reproduzindo o covarde e pusilânime Dr. Smith (o bom ator Jonathan Harris), da série Perdidos no Espaço (1965/8).
O texto foi publicado na FSP e no chumbogordo, de 13 de janeiro.


doctor smithHá alguns anos, 2008 ou 2009, não me lembro bem, estive na Argentina com um amigo para visitar autoridades e economistas locais. Na ocasião, no jantar com um destes economistas, meu amigo perguntou sua opinião sobre o então presidente do BCRA, Martin Redrado. Ele suspirou, olhou para nós e, caprichando no insuperável sotaque portenho, confidenciou: “Martiiiin… ¡Martin es un pusilánime!”.
Não pude deixar de me lembrar disto ao ler a Carta Aberta do presidente do nosso BC ao ministro da Fazenda, explicando as razões pelo estouro espetacular da meta de inflação (10,7% contra 4,5%, muito além dos dois pontos percentuais de tolerância). Aqueles com paciência para encarar 5 páginas e 38 parágrafos do que, em meu tempo de escola, era conhecido como “encher linguiça” podem até ficar com pena da atual diretoria do BC, que se coloca como impotente e surpresa face ao choque inflacionário, mas, se for o caso, terão sido devidamente enrolados.
A narrativa do BC é a mesma desde 2014:

a inflação refletiria dois processos de mudança de preços relativos, isto é, o ajuste dos preços administrados (como energia ou combustíveis) vis-à-vis preços livres, assim como a elevação dos preços de bens afetados pelo dólar (normalmente exportados e importados) em comparação àqueles cujo preço depende essencialmente das condições domésticas (tipicamente, mas não apenas, serviços).
Em face destes choques, caberia ao BC apenas evitar sua propagação aos demais preços, por exemplo, reduzindo a demanda para que empresas não repassassem integralmente o aumento das tarifas de energia sobre o preço dos seus produtos, ou o custo das matérias-primas importadas.
Ao atribuir a culpa pela inflação de 2015 aos preços administrados, porém, o BC deixa de lado algumas informações importantes. Em primeiro lugar deveria reconhecer que tanto em 2013 como em 2014 a inflação só se manteve dentro dos limites de tolerância graças à prática (irresponsável) de contenção artificial dos preços públicos. Sua negligência inicial no trato com a inflação se encontra, portanto, na raiz da política de controle de preços entre 2012 e 2014 e, por consequência, da necessidade do ajuste em 2015.
Já no que se refere ao efeito do dólar, vale praticamente o mesmo ponto. O BC, por meio de suas intervenções, represou o ajuste da moeda e é, ao menos em parte, responsável pelo forte desvalorização do real no ano passado.
É verdade, reconheço, que o dólar saltou de patamar após o infeliz anúncio do orçamento para 2016 e dos sinais cada vez mais claros da incapacidade do governo no que se refere ao controle de seus gastos.
No entanto, enquanto agora o BC culpa o desempenho fiscal, em todas suas manifestações oficiais anteriores afirmara que “no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona de neutralidade e não [se] descarta a hipótese de migração para a zona de contenção”, ou seja, sem maiores críticas à política fiscal, muito ao contrário. Hipocrisia pode ser a homenagem que o vício presta à virtude, mas um pouco mais de sutileza não faria falta.
Trata-se, enfim, de um documento pusilânime, em que o BC foge da responsabilidade pelo problema que criou. Que use de mais coragem na Carta do ano que vem.


Mas leiam também o artigo de 23 de dezembro, Barbooosa (ou O ministro irrelevante), o que me levou a imaginar a seguinte frase:
Um documento pusilânime para um ministro irrelevante.
Aí tive de colocar o Modess! Às vezes, mesmo não querendo, “a gente” não consegue deixar de falar nas coisas do brazil, do Sir Ney, Lobão, Renan, Pimentel, Barbalho, Jucá, Sibá, ihhh… a lista é infindável…

5 Responses to PUSILÂNIME

  1. leguene says:

    A leitura de revistas e jornais, mais imagens e sons da tv deixam com uma clareza cristalina que o brasileiro, em geral, é um povo medíocre, recém saído das cavernas. Em que pese alguns avanços, sempre na economia, que é a única coisa que se pode medir e anunciar índices relativos, ao voltarmos para o cultural, para o político, para o social, a coisa desanda. Junte-se a essa dificuldade o fato de intelequituais, estes que infestam as faculdades, universidades, na literatura, adotarem o quanto medíocre melhor. Um retrocesso para quem já vinha a passos de tartaruga sem bússola. E, pimba, chegamos a 2.016. Sei que existem militantes ateus e que graças às “religiões” estão abandonando paulatinamente suas antigas crenças nos deuses. Mas é aí que entra a cultura e sua afirmação na mediocridade. É muita gente fazendo esforço para que o Brasil se transforme naquele Paraguai que era motivo de troça pelos brasileiros. Mal sabiam que estavam sendo preparados para ultrapassa-los no desdenho, no papel de produtor de caricaturas. Pobre Brasil. Que povo! Existem as exceções, mas elas são tímidas, distribuídas pelo interior desse gigante geográfico. Imagine o Brasil nas mãos de japoneses, israelense, alemães, sul coreanos. Se acalmem estouvados intelequituais. Ninguém conseguira impor qualquer coisa que fuja de nossa natureza macunaímica. Antigamente se acreditava que deus era brasileiro, mas graças a esquerda hoje não se acredita mais em coisa alguma. Cada um para si com seus referenciais, com seu sentimento de justiça, com o desejo de julgar por suas próprias leis. Todos estão colaborando para um Brasil medíocre. Polítocos, empresários, autoridades judiciárias, imprensa, escolas e universidades. Somos como aquela personagem tão bem caracterizada por Regina Duarte, aquela que foi sem nunca ter sido, a viúva Porcina. É lamentável. É triste. Uma crise que foi sendo construída tijolo por tijolo, com eficiência negativa insuperável, pois os agentes, nesse aspecto, são insuperáveis. Daqui a pouco bolivianos, argentinos, paraguaios, colombianos, chilenos estarão contando piadas do brasileiro da mesma forma que os nossos avós contavam dos portugueses. Há um ditado chines que diz: ” Se não souberes como descer de um tigre, não subas nele”. E o Brasil resolver subir no tigre sem nenhuma cautela, tipo assim, voluntarioso. Tá difícil descer dele.

    • biaberna says:

      leguene: “A leitura de revistas e jornais, mais imagens e sons da tv deixam com uma clareza cristalina que o brasileiro, em geral, é um povo medíocre, recém saído das cavernas…”
      Quer saber?
      No verão o melhor a fazer é ir para a praia preferida/costumeira para se ter outra impressão do povo brasileiro.
      E de valia conhecer o envolvimento diário:
      – iniciar aí pelas seis da matina já trajado a rigor (o mínimo de roupa);
      – admirar as práticas de pesca na praia com a brisa e papos dos madrugadeiros é genial;
      – o movimento dos esportes radicais também é uma beleza de apreciar, observar e prosear;
      – mais adiante os ocupantes das areias com toda as possibilidades de fazer e aparecer;
      – isso vai até lá pelas oito da noite.
      Povão brasileiro à beira-mar é uma beleza.
      E ainda mais com todos os recursos da cidade grande.
      É o máximo!
      Que nada de caverna, de medíocre.

  2. magu™ says:

    Alô, Leo
    Usou ‘infestam’ as faculdades, de propósito, ou queria dizer ‘infectam’?

  3. Gil says:

    Infestam e infectam e festejam a fedentina. Faz até fastio.

  4. Old man says:

    Mudando de um polo ao outro, os profetas são aqueles que fazem previsões para tempos futuros e que não poderão ser contestados. por nós, porque as populações se renovam em torno de 100 anos mais ou menos. Como já sou matusalem arrisco fazer uma profecia para um novo mundo que vai renascer depois da 3ª guerra mundial na qual 2/3 da população perecerá.

    Os povos mais atingidos serão as grandes potencias que procurarão outras áreas menos atingidas e com grande potencial em recursos naturais. O brasil como não terá mais FFAA, não participará nessa guerra de gigantes e será o país ideal que será habitado por povos com tecnologia avançada e com propósitos de paz em busca de uma nova Canaã, onde a paz reinará por muitos séculos. Se o Leguene reencarnar nessa época, terá concretizado seu sonho de ver o Brasil, governado, por Israelenses, alemães, japoneses etc., e que se transformará no celeiro do mundo.

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